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O Estranho Amor pela Guerra - Solidariedade ao povo ucraniano

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- SE VOCÊ QUISER LER ESTE TEXTO EM SEU IDIOMA, PROCURE A OPÇÃO "TRADUTOR" (TRADUTOR) NO CANTO SUPERIOR ESQUERDO DA TELA - Minha ideia era escrever sobre o Carnaval, porém não só o Carnaval está cancelado como a invasão russa à Ucrânia se tornou um tema central, incontornável.  POR PRECAUÇÃO É PRECISO LEMBRAR QUE EM TEMPOS DE GUERRA, A PRIMEIRA VÍTIMA É A VERDADE (supostamente esta é uma máxima de Samuel Johnson), de modo que as informações a respeito da Guerra na Ucrânia que publico aqui correm o risco de serem desmentidas num segundo momento.  Como de costume, me apoio em alguma obra de arte como ponto de partida de meus textos; hoje parto de Doutor Fantástico  (1964), uma obra-prima cinematográfica, do genial cineasta estadunidense Stanley Kubrick para pensar o que estamos passando na atualidade. Cartaz de Doutor Fantástico  (Stanley KUBRICK, 1964) O filme data de 1964, o que quer dizer que foi realizado logo em seguida ao extremo  calor da famosa Crise dos m...

Dedicado aos petropolitanos: A Catedral de Petrópolis

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 - IF YOU WANT TO READ THIS TEXT IN YOUR LANGUAGE, SEARCH FOR THE OPTION "Tradutor" (Translator) IN THE TOP LEFT OF THE SCREEN -  Minha vida inteira frequentei Petrópolis, da infância até hoje, portanto, o texto que segue é, evidentemente, carregado de afetos vários. Eu não poderia não escrever. Escolhi um símbolo da cidade como ponto central desta homenagem crítica à cidade que passa por uma tragédia infelizmente anunciada, uma repetição de outras tragédias de verão já ocorridas por lá. Segundo os dados que consultei na imprensa, ao escrever este texto, no atual momento [sendo atualizado*] contam-se 233 mortos e 4 desaparecidos devido a desmoronamentos e enchentes ocasionados pelas fortes chuvas de verão (mas seria somente um desastre natural?). O Centro da cidade foi, dessa vez, muito machucado, mas permanece lá, resistente, a Catedral de Petrópolis, o objeto-pretexto de meu pequeno ensaio. Catedral São Pedro de Alcântara , Petrópolis (Júlio Frederico KOELER, 1843; Francis...

A estética do jogo fascista

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 - IF YOU WANT TO READ THIS TEXT IN YOUR LANGUAGE, SEARCH FOR THE OPTION "Tradutor" (Translator) IN THE TOP LEFT OF THE SCREEN -  Foi veiculado, via redes sociais, nesta semana, um vídeo do jornalista Pedro Dória que tratou, a partir do assassinato de Moïse Kabagambe [que também abordei em meu post anterior], do tema do fascismo e, mais particularmente, do fascismo brasileiro, indicando que o atual presidente da república encaixa-se perfeitamente na definição de fascista. Dória define fascismo a partir de Robert O. Paxton (1979), sinalizando que o tema do culto à morte real e simbólica é o ponto central ao qual se acoplariam, creio eu, características diversas, formando os diferentes fascismos históricos, a começar pelo que deu o nome ao monstro e que chegava ao poder, com Benito Mussolini, há 100 anos atrás.  Deste modo, há uma estética sempre presente no fascismo que poderíamos chamar de culto à morte, a qual se conjuga também com uma certa moral e com uma atitude polí...

Dignidade aos matáveis - luto por Kabagambe

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 - IF YOU WANT TO READ THIS TEXT IN YOUR LANGUAGE, SEARCH FOR THE OPTION "Tradutor" (Translator) IN THE TOP LEFT OF THE SCREEN -  O assassinato de um imigrante congolês no Rio de Janeiro, Moïse Kabagambe, aconteceu nesta semana. Ele foi surrado num quiosque na Barra da Tijuca porque cobrava pagamento atrasado por seus serviços. Surrado, espancado por pessoas portando tacos de beisebol e pedaços de pau, Kabagambe materializou o que ele, imigrante africano e pobre, é para seus agressores: um monte de carne e mais nada. Diante de tamanho horror, c onvoco o grande fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado para auxiliar-me a conceder a este homem um digno trabalho de luto. Imigrantes involuntários ou refugiados em Êxodos  (Sebastião SALGADO, 1999) A fotografia acima, de Sebastião Salgado, é apenas uma dentre muitas que compõem seu livro Êxodos  (1999), o qual documenta cenas da existência de diversos povos no mundo que, na época, eram obrigados a se exilar de seu lar, de sua...

Qual a mensagem de Íris?

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  - IF YOU WANT TO READ THIS TEXT IN YOUR LANGUAGE, SEARCH FOR THE OPTION "Tradutor" (Translator) IN THE TOP LEFT OF THE SCREEN -  Íris, mensageira dos deuses  é uma escultura de Auguste Rodin, criada entre 1891 e 1894. A escolha deste nome para esta escultura é o ensejo para trazer para este blog algumas importantes discussões que atravessam o campo psicanalítico e mais um comentário, ao final, a respeito da absurda invencionice de uma graduação em psicanálise.  Íris, mensageira dos deuses  (Auguste RODIN, 1891-94) Antes de tratar da própria escultura, vale lembrar ao leitor quem é Íris, a mensageira dos deuses: na mitologia grega, Íris é, ela própria, uma deusa, que se manifesta no, e ao mesmo tempo, é o arco-íris - uma ligação entre os céus e a terra. Íris, tal como Hermes, é uma deusa mensageira, é ela quem faz a comunicação dos deuses com os humanos; o fenômeno do arco-íris era, desse modo, significado na Grécia arcaica como uma mensagem dos deuses a ser d...

Ou artes da existência ou normalização universitária

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 - IF YOU WANT TO READ THIS TEXT IN YOUR LANGUAGE, SEARCH FOR THE OPTION "Tradutor" (Translator) IN THE TOP LEFT OF THE SCREEN -  Tendo em vista o interesse que meu texto de domingo passado parece ter suscitado - acredito que isso se deve à grave situação da criação de uma faculdade com formação de psicanalistas no Paraná -, continuo a tratar do tema da formação do psicanalista através de um diálogo com o campo das artes e da cultura. Hoje articulo os temas formação, cultura e estética da existência, o último tendo sido disseminado pelo pensador Michel Foucault ao final de sua vida e obra, como, por exemplo, em A hermenêutica do sujeito  (1981-82) e História da sexualidade volume 2: o uso dos prazeres  (1984). Mas antes, gostaria de destacar, para o leitor, alguns momentos da história da psicanálise. Michel Foucault  1) Em Os primeiros psicanalistas, volume 1: 1906-1908  (CHECCHIA, TORRES & HOFFMANN, 2015), conhecemos melhor como funcionava o famoso G...

Trompe l'oeil na formação de psicanalistas

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  - IF YOU WANT TO READ THIS TEXT IN YOUR LANGUAGE, SEARCH FOR THE OPTION "Tradutor" (Translator) IN THE TOP LEFT OF THE SCREEN - Hoje quero falar do  trompe l'oeil . Este termo, cunhado e mantido em francês, pode ser traduzido por 'engana o olho'. Costuma ser utilizado para designar um efeito de ilusão de espaço, de profundidade, de realismo, através de técnicas de perspectiva e jogos de luzes, nas artes plásticas e na arquitetura. Mas quero falar dele na formação de psicanalistas. Trompe l'oeil em mural nas ruínas romanas de Herculano, Itália O termo surgiu no século XVII, mas estas técnicas ilusórias datam de muito tempo atrás, já existiam em Pompéia e Herculano. Ainda assim, o fato de o termo ter sido cunhado no século XVII, na era do estilo barroco, não é sem importância. A arte barroca usou e abusou do trompe l'oeil ; ele está intimamente ligado à lógica daquela produção cultural. Como mostra o historiador da arte Giulio Carlo Argan, em seu livro Im...

O erotismo no sagrado, a adoração do profano

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 - IF YOU WANT TO READ THIS TEXT IN YOUR LANGUAGE, SEARCH FOR THE OPTION "Tradutor" (Translator) IN THE TOP LEFT OF THE SCREEN -  Escolhi abordar um quadro de Ticiano Vecellio, mestre entre os venezianos do século XVI - e ainda atualmente um mestre - na postagem de hoje. O quadro em questão, terminado em 1515, ganhou o nome pelo qual é reconhecido hoje apenas mais de cem anos depois de terminado. Foi comprado após a morte de Ticiano, em 1608, pela poderosa família de cardeais e mecenas Borghese, e já na coleção Borghese, de 1693 em diante, é conhecido pelo título de Amor sacro e Amor profano .  Amor sacro e amor profano  (TICIANO Vecellio, 1515) O que se sabe hoje da história desta obra é que foi feita por encomenda de um noivo como presente para sua noiva tendo em vista o matrimônio próximo. Supostamente a mulher pintada vestida de branco representaria a noiva. Mas o quadro também costuma ser interpretado, e é essa a ênfase de Panofski (1979), p.e., como mais uma en...