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Diagnóstico em/ou psicanálise

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Composição com vermelho, azul, amarelo e preto (Piet MONDRIAN, 1921)  -   IF YOU WANT TO READ THIS TEXT IN YOUR LANGUAGE, SEARCH FOR THE OPTION "Tradutor" (Translator) IN THE TOP LEFT OF THE SCREEN - De tempos em tempos os alunos de graduação em psicologia demonstram um grande interesse na prática diagnóstica e me pedem para falar sobre o diagnóstico em psicanálise. Decidi falar disso hoje, então, aproveitando a data comemorativa de dois breves textos de Freud sobre o assunto, que comemoram 100 anos em 2024: "Neurose e psicose" (FREUD, 1924a) e "A perda da realidade na neurose e na psicose" (id., 1924b). Porém pretendo, ao longo do texto, comentar criticamente este anseio por diagnóstico que vemos não só entre estudantes de psicologia, mas também entre pacientes, escolas, empresas e outras instituições.  Antes de tudo, é preciso dizer que os psicanalistas diagnosticam os sofrimentos psíquicos de modo muito diferente dos psiquiatras e dos psicólogos, embora

O brasileiro: um extrativista (comentário sobre o afundamento de Maceió)

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 -   IF YOU WANT TO READ THIS TEXT IN YOUR LANGUAGE, SEARCH FOR THE OPTION "Tradutor" (Translator) IN THE TOP LEFT OF THE SCREEN - Um dos flagrantes afundamentos do solo de Maceió, 2023 Quem acompanhou o noticiário recente, se deparou com a assustadora notícia de que Maceió está afundando. A Braskem vem operando lá desde que as minas no subsolo da capital de Alagoas foram autorizadas - isso se deu em 1976, contrariamente à avaliação dos órgãos públicos que se ocupavam já da questão ambiental (que se tornou um verdadeiro tema político só na década seguinte). O governo biônico de Alagoas passou por cima (ou eu deveria dizer, passou por baixo?) daqueles que se preocupavam com uma catástrofe ambiental urbana e autorizou a exploração do subterrâneo da cidade.  Hoje há diversas cavernas artificiais produzidas pela atividade mineradora da Braskem. O Serviço Geológico do Brasil (SGB) confirmou o que todos suspeitavam há muito tempo somente em 2019: o afundamento de vários bairros que

a propósito das joias

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 SE VOCÊ QUISER LER ESTE TEXTO EM SEU IDIOMA, PROCURE A OPÇÃO "TRADUTOR" (TRANSLATOR) NO CANTO SUPERIOR ESQUERDO DA TELA - O assunto de hoje são as joias. Ou talvez devêssemos escrever em espanhol - joyas -, pois evocam, ao mesmo tempo, o termo joy da língua inglesa? Pretendo discutir neste texto o joy embutido na joia/joya...ou deveríamos ainda dizer na joy 'a'? Há duas semanas eu havia mencionado a teoria do amor que o psicanalista francês Jacques Lacan desenvolveu em seu O seminário livro 8: a transferência (LACAN, 1960-61). Comentei que naquela altura de seu ensino, Lacan tentou pensar o próprio amor como tela na relação do sujeito com o objeto. Este objeto de que fala Lacan não é, portanto, o objeto total da imagem da figura amada, mas, ao contrário, um objeto escondido e parcial que, desde dois anos antes, vinha sendo designado por objeto a .  Neste seminário, tendo em vista a escolha de sua abordagem do tema - se debruçar sobre um dos mais célebres textos s

A estética do jogo fascista

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 - IF YOU WANT TO READ THIS TEXT IN YOUR LANGUAGE, SEARCH FOR THE OPTION "Tradutor" (Translator) IN THE TOP LEFT OF THE SCREEN -  Foi veiculado, via redes sociais, nesta semana, um vídeo do jornalista Pedro Dória que tratou, a partir do assassinato de Moïse Kabagambe [que também abordei em meu post anterior], do tema do fascismo e, mais particularmente, do fascismo brasileiro, indicando que o atual presidente da república encaixa-se perfeitamente na definição de fascista. Dória define fascismo a partir de Robert O. Paxton (1979), sinalizando que o tema do culto à morte real e simbólica é o ponto central ao qual se acoplariam, creio eu, características diversas, formando os diferentes fascismos históricos, a começar pelo que deu o nome ao monstro e que chegava ao poder, com Benito Mussolini, há 100 anos atrás.  Deste modo, há uma estética sempre presente no fascismo que poderíamos chamar de culto à morte, a qual se conjuga também com uma certa moral e com uma atitude política

Trompe l'oeil na formação de psicanalistas

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  - IF YOU WANT TO READ THIS TEXT IN YOUR LANGUAGE, SEARCH FOR THE OPTION "Tradutor" (Translator) IN THE TOP LEFT OF THE SCREEN - Hoje quero falar do  trompe l'oeil . Este termo, cunhado e mantido em francês, pode ser traduzido por 'engana o olho'. Costuma ser utilizado para designar um efeito de ilusão de espaço, de profundidade, de realismo, através de técnicas de perspectiva e jogos de luzes, nas artes plásticas e na arquitetura. Mas quero falar dele na formação de psicanalistas. Trompe l'oeil em mural nas ruínas romanas de Herculano, Itália O termo surgiu no século XVII, mas estas técnicas ilusórias datam de muito tempo atrás, já existiam em Pompéia e Herculano. Ainda assim, o fato de o termo ter sido cunhado no século XVII, na era do estilo barroco, não é sem importância. A arte barroca usou e abusou do trompe l'oeil ; ele está intimamente ligado à lógica daquela produção cultural. Como mostra o historiador da arte Giulio Carlo Argan, em seu livro Im