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Qual a mensagem de Íris?

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  - IF YOU WANT TO READ THIS TEXT IN YOUR LANGUAGE, SEARCH FOR THE OPTION "Tradutor" (Translator) IN THE TOP LEFT OF THE SCREEN -  Íris, mensageira dos deuses  é uma escultura de Auguste Rodin, criada entre 1891 e 1894. A escolha deste nome para esta escultura é o ensejo para trazer para este blog algumas importantes discussões que atravessam o campo psicanalítico e mais um comentário, ao final, a respeito da absurda invencionice de uma graduação em psicanálise.  Íris, mensageira dos deuses  (Auguste RODIN, 1891-94) Antes de tratar da própria escultura, vale lembrar ao leitor quem é Íris, a mensageira dos deuses: na mitologia grega, Íris é, ela própria, uma deusa, que se manifesta no, e ao mesmo tempo, é o arco-íris - uma ligação entre os céus e a terra. Íris, tal como Hermes, é uma deusa mensageira, é ela quem faz a comunicação dos deuses com os humanos; o fenômeno do arco-íris era, desse modo, significado na Grécia arcaica como uma mensagem dos deuses a ser d...

Ou artes da existência ou normalização universitária

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 - IF YOU WANT TO READ THIS TEXT IN YOUR LANGUAGE, SEARCH FOR THE OPTION "Tradutor" (Translator) IN THE TOP LEFT OF THE SCREEN -  Tendo em vista o interesse que meu texto de domingo passado parece ter suscitado - acredito que isso se deve à grave situação da criação de uma faculdade com formação de psicanalistas no Paraná -, continuo a tratar do tema da formação do psicanalista através de um diálogo com o campo das artes e da cultura. Hoje articulo os temas formação, cultura e estética da existência, o último tendo sido disseminado pelo pensador Michel Foucault ao final de sua vida e obra, como, por exemplo, em A hermenêutica do sujeito  (1981-82) e História da sexualidade volume 2: o uso dos prazeres  (1984). Mas antes, gostaria de destacar, para o leitor, alguns momentos da história da psicanálise. Michel Foucault  1) Em Os primeiros psicanalistas, volume 1: 1906-1908  (CHECCHIA, TORRES & HOFFMANN, 2015), conhecemos melhor como funcionava o famoso G...

Trompe l'oeil na formação de psicanalistas

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  - IF YOU WANT TO READ THIS TEXT IN YOUR LANGUAGE, SEARCH FOR THE OPTION "Tradutor" (Translator) IN THE TOP LEFT OF THE SCREEN - Hoje quero falar do  trompe l'oeil . Este termo, cunhado e mantido em francês, pode ser traduzido por 'engana o olho'. Costuma ser utilizado para designar um efeito de ilusão de espaço, de profundidade, de realismo, através de técnicas de perspectiva e jogos de luzes, nas artes plásticas e na arquitetura. Mas quero falar dele na formação de psicanalistas. Trompe l'oeil em mural nas ruínas romanas de Herculano, Itália O termo surgiu no século XVII, mas estas técnicas ilusórias datam de muito tempo atrás, já existiam em Pompéia e Herculano. Ainda assim, o fato de o termo ter sido cunhado no século XVII, na era do estilo barroco, não é sem importância. A arte barroca usou e abusou do trompe l'oeil ; ele está intimamente ligado à lógica daquela produção cultural. Como mostra o historiador da arte Giulio Carlo Argan, em seu livro Im...

O erotismo no sagrado, a adoração do profano

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 - IF YOU WANT TO READ THIS TEXT IN YOUR LANGUAGE, SEARCH FOR THE OPTION "Tradutor" (Translator) IN THE TOP LEFT OF THE SCREEN -  Escolhi abordar um quadro de Ticiano Vecellio, mestre entre os venezianos do século XVI - e ainda atualmente um mestre - na postagem de hoje. O quadro em questão, terminado em 1515, ganhou o nome pelo qual é reconhecido hoje apenas mais de cem anos depois de terminado. Foi comprado após a morte de Ticiano, em 1608, pela poderosa família de cardeais e mecenas Borghese, e já na coleção Borghese, de 1693 em diante, é conhecido pelo título de Amor sacro e Amor profano .  Amor sacro e amor profano  (TICIANO Vecellio, 1515) O que se sabe hoje da história desta obra é que foi feita por encomenda de um noivo como presente para sua noiva tendo em vista o matrimônio próximo. Supostamente a mulher pintada vestida de branco representaria a noiva. Mas o quadro também costuma ser interpretado, e é essa a ênfase de Panofski (1979), p.e., como mais uma en...

Bandeira da Felicidade e do gozo

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   - IF YOU WANT TO READ THIS TEXT IN YOUR LANGUAGE, SEARCH FOR THE OPTION "Tradutor" (Translator) IN THE TOP LEFT OF THE SCREEN -  E começa 2022, ano prenhe de esperanças...ao menos para mim, mas sei que não somente para mim...De todo modo, o início de um novo ano nos faz pensar no futuro...e também no passado: entramos no ano do centenário da Semana de Arte Moderna. E quem sabe os artistas brasileiros de cem anos atrás, os modernistas que protagonizaram aquele acontecimento, possam nos ajudar a pensar e sentir nosso hoje? E será que nos ajudam a pensar também um futuro possível? Sim, eles nos ajudam. Manuel Bandeira certamente. Cartaz da Semana de Arte Moderna de 1922 O meu preferido dentre os grandes nomes de 1922 é o poeta pernambucano Manuel Bandeira. Escolho um poema seu como tema do texto de hoje: o gozo . Leiam Felicidade , que se encontra em sua Antologia poética  (1961): A doce tarde morre. E tão mansa Ela esmorece, Tão lentamente no céu de p...

O Cristo trágico contra o sucesso em Cristo

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 - IF YOU WANT TO READ THIS TEXT IN YOUR LANGUAGE, SEARCH FOR THE OPTION "Tradutor" (Translator) IN THE TOP LEFT OF THE SCREEN -  Entre o Natal e o Ano Novo não há mais como desviar do tema do nascimento de Jesus Cristo. Ou melhor, um pequeno desvio ainda se faz - sim, hoje comentarei uma obra estética que discute a vida de Cristo, porém não seu nascimento; o assunto é mesmo sua vida e morte como filho de Deus. A obra é o filme A última tentação de Cristo , de Martin Scorsese, lançada em 1988. Capa do DVD de A última tentação de Cristo  (Martin SCORSESE, 1988) O filme, inspirado no livro de Nikos Kazantzákis, A última tentação (1952), é, provavelmente, a melhor obra cinematográfica a respeito de Jesus Cristo. Ali vemos Jesus como um humano que, por ser filho de Deus, sofre profundamente de uma divisão psíquica : Sou santo ou sou um humano comum? O que desejo ? Atender à vontade do Pai ou seguir outro caminho? Esse sujeito dividido entre o desejo do Outro e aquilo que se...

Uma pressão surda

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 - IF YOU WANT TO READ THIS TEXT IN YOUR LANGUAGE, SEARCH FOR THE OPTION "Tradutor" (Translator) IN THE TOP LEFT OF THE SCREEN -  Estamos nos aproximando do Natal e, por isso, me senti impelido a comentar e pensar a partir de alguma obra de arte que diga respeito a essa época do ano. Todavia, não se trata de uma obra natalina. Dia 22 de dezembro é a data de aniversário da primeira apresentação da Quinta Sinfonia de Beethoven, talvez sua mais famosa obra. No próximo dia 22, a obra fará 213 anos. Vida longa a ela e a Ludwig van Beethoven! Ludwig van Beethoven  (Karl STIELER, 1820) Uma obra que se move da alta tensão à solenidade, à leveza e à grandiosidade. Mas, tomada como um todo, é certamente marcada pela tensão inicial, de cabo a rabo (ou à coda ). Não à toa, seu primeiro movimento é o mais famoso, mais marcante: a frase simples, ritmada, insistente, que abre a sinfonia, jamais é realmente abandonada; outros temas surgem, mas sempre dialogando, repetindo, dando indícios...

RPG e castração

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 - IF YOU WANT TO READ THIS TEXT IN YOUR LANGUAGE, SEARCH FOR THE OPTION "Tradutor" (Translator) IN THE TOP LEFT OF THE SCREEN -  O nome deste blog é Psicanálise, arte e cultura , é verdade... no entanto, hoje não tratarei exatamente de uma experiência artística, mas, sem dúvida, ainda assim, de uma experiência cultural estética contemporânea, que são os jogos do tipo RPG ( Role-Playing Games ).  É verdade que muitos destes jogos foram inspirados por trabalhos artísticos da literatura e do cinema, como a trilogia O senhor dos anéis  de J.R.R. Tolkien (1954-55) ou a obra de H.P. Lovecraft  O chamado do Cthulu  (1928), e também inspiraram obras literárias, como a do escritor brasileiro contemporâneo Eduardo Spohr (2007-) mas meu interesse maior no texto de hoje recai sobre a experiência estética dos jogos, que implica uma certa dramaturgia, e não nas referências que os inspiraram ou se inspiraram neles. J.R.R. Tolkien Para quem não os conhece, é preciso escla...