O ódio ao intelectual

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Já que ontem foi o Dia do Mestre e alguns episódios recentes - somados a outros não tão recentes -, se relacionam, de modo desagradável, à figura do pesquisador e professor universitário, os tomo como ensejo de uma manifestação minha, que também sou professor e pesquisador universitário:

- Michel Gherman, estudioso de referência quando o assunto é antissemitismo, foi impedido de falar em evento realizado na PUC-RIO para se discutir o conflito entre Hamas e Israel. Gherman foi acusado de ser pró-Hamas, aparentemente porque, além de condenar veementemente a violência atroz cometida pelo Hamas, ter também problematizado o modus operandi desumano do Estado de Israel em relação à Faixa de Gaza. Minha solidariedade a Gherman.

- Recentemente houve na UFBA uma manifestação de estudantes contra uma professora, acusando-a de transfóbica, tendo em vista um episódio em sala de aula, em que ela chamou uma aluna transsexual por um pronome masculino. Importante notar que a aula foi gravada e o episódio não indica de modo nenhum um comportamento transfóbico, mas um desconhecimento por parte da professora de que fala com uma pessoa transexual. Se escuta a atitude de ao menos uma discente de tentar impedir a professora de falar e problematizar seu argumento. Minha solidariedade à professora.

Michel Gherman abandonando evento na PUC-RIO onde foi impossibilitado de falar

- Se proliferam propostas de ensino à distância (EAD) nas quais as aulas são gravadas, de modo que a discussão entre professor e alunos está ausente. A sua experiência, o seu saber, o seu conhecimento e o seu know-how são tratados como material acumulável, objetivável e passível de ser transmitido através de procedimentos análogos à colocação de uma coisa em outro lugar, da mente do professor na mente do aluno, sem restos, de modo a que a reprodução seja perfeita. Esta perspectiva ressignifica o lugar do professor a algo parecido com um manual de instruções; não mais alguém cujo pensamento é um trabalho em andamento, uma aventura, algo tenso e arriscado, que incomoda.

- Esta perspectiva também parece estar presente em discursos recentes, alguns ingênuos e outros interessados seja comercial seja ideologicamente, que sugerem que a profissão do professor logo se tornará desnecessária tendo em vista os progressos com a tecnologia da I.A., como, por exemplo, o já popular Chat-GPT. Ora, o que tal tecnologia faz  fundamentalmente é cumprir com um trabalho de consulta e junção do material consultado num enunciado minimamente - e só minimamente mesmo - coerente.

- Há alguns anos, políticos de extrema-direita e alguns de seus seguidores estimularam estudantes universitários a gravar aulas de professores que eles julgavam doutrinadores de esquerda, concebendo tal ato como uma estratégia intimidatória da enunciação de pensamentos que os incomodassem ética, estética, moral e politicamente. Chegou-se a se dizer que a universidade é lugar de balbúrdia e bacanal, mas o perigo mesmo está no pensamento. 

Propaganda de EAD de graduação em psicanálise na UNINTER, aberração de que já tratei em outros posts

- Silenciamentos e cancelamentos se tornaram prática cada vez mais comum em nossa sociedade, na internet, nas escolas, nas universidades: em espaços onde se expressam pontos de vista diversos. Se tal prática pôde ser percebida com mais exuberância e truculência em grupos de extrema-direita, é fato que também ocorre em profusão em grupos com ideais progressistas, de modo que assombra todo o espectro de posições políticas hoje em dia. O patrulhamento ideológico nem sempre dá tempo e espaço para o pensamento crítico agir sobre si mesmo. 

Se na década de 1960 a grande crítica aos intelectuais se pautou no fato de que eles haviam se afastado da sociedade para habitar torres de marfim e que eles utilizavam - ao contrário do que Kant queria como Esclarecimento (KANT, 1783) - mais sua autoridade funcional-política do que o pensamento argumentativo-racional como força educativa e referência de condução da vida, hoje, os ataques aos intelectuais recaem bem mais sobre o contrário: não tanto sobre sua autoridade, e bem mais sobre eles preferirem a crítica, o pensamento e o argumento à ação imediata, impensada e muitas vezes violenta. Não há dúvidas de que há ainda muitos professores opressores, mas o conjunto dos momentos acima elencados me força a desenvolver meu argumento por outro caminho.

Os 6 momentos acima lembrados têm em comum um verdadeiro ódio ao intelectual. Tanto o intelectual como personagem público quanto no sentido do intelectual como um campo entre a percepção e a ação. O momento da discussão, da crítica, da problematização, da reflexão - numa palavra, do pensamento - é odiado. É isso o que o professor e pesquisador universitário pode oferecer à cultura: pensamento; e isso gera ódio, aparentemente. O ódio ao intelectual é uma das características daquilo que Umberto Eco chamou de fascismo originário (1995); portanto, Michel Gherman, considerando o episódio na PUC-RIO, está certo: lá, ele olhou o fascismo nos olhos.

Visitantes indesejados (Edvard MUNCH, 1932-35)

A psicanálise pode contribuir com este debate e com a positivação do lugar do intelectual na cultura. Em primeiro lugar, podemos nos perguntar em quê o intelectual, com sua proposta de delimitar o campo intelectual como via de abordagem de um problema, é visto como desagradável ou temido.

Em um pequeno grande texto, "A negativa" (1925), Freud nos oferece instrumentos para abordar esta discussão calcados no pensamento psicanalítico. Ali o inventor da psicanálise tenta formular uma teoria do juízo, ou seja, uma teoria sobre como desenvolvemos nossa capacidade de julgar nossas experiências e dizer para nós mesmos (e para os outros) se aprovamos ou não algo, se consideramos algo como legítimo, verdadeiro ou não. Em suma, os fundamentos de nossa atitude moral e ética,  mas também estética, estão ali esboçados não numa perspectiva idealista, mas genética - ou seja, Freud busca os fundamentos nas origens de nossa vida psíquica para tal tipo de relação que todos travamos com o mundo: a atitude judicativa.

Compreender como se constrói esta atitude nos ajudará a nos situar tanto diante da importância do pensamento quanto das razões porque o intelectual é alvo do ódio de muita gente.

Sigmund Freud, 1926

Freud organiza assim seu argumento. A faculdade de julgamento está relacionada a duas espécies de decisões. Uma delas é a de afirmar ou desafirmar a presença de um atributo a alguma coisa: o atributo 'bom' nos leva a querer incorporar tal coisa a nosso eu e o atributo 'ruim' nos leva a querer expelir tal coisa de nosso eu. É assim que já funciona nosso eu na pequena infância: dentro de um princípio fundamental que regula o funcionamento psíquico de todos humanos: o princípio do prazer.

O que é prazeroso eu introjeto, o que é desprazeroso é tido como não-eu:

 "Aquilo que é mau, que é estranho ao ego [eu], e aquilo que é externo são, para começar, idênticos" (FREUD,1925, p. 267).

 Este modo de funcionamento psíquico primitivo age em todos nós e Jacques Lacan, na esteira de Freud, em "Agressividade e psicanálise" (1948) propõe que este modo é paranóico e é próprio da dinâmica do eu e de seu narcisismo. Pode-se dizer que este tipo de juízo não implica pensamento, nele não há escansão entre a percepção e o ato, ele beira a resposta imediata e expressa bem a dinâmica do que o psicanalista francês chama de registro do imaginário. O recalque, como reação emocional é o modelo da operação psíquica que funciona 'sem pensar'. O recalque é um modo de o eu não mais ter de saber, de ver em si o que é mau, bem como, aliás, é o caso também de outro mecanismo de defesa, a projeção, que age de acordo com a seguinte lógica: o que é ruim passa a ser visto como pertencente ao outro e não mais ao eu que é mantido como imagem narcísica a ser amada.

Mas há outra espécie de avaliação na atividade judicativa, mais elaborada. Nós também julgamos se aquilo que buscamos se encontra na realidade externa ou somente em nossa realidade psíquica, ou seja, o princípio do prazer cede ao princípio de realidade o qual depende do teste de realidade sobre o objeto fantasiado. Buscamos reencontrar o objeto na realidade. Ainda se trata de uma divisão entre o que é externo e o que é interno. No entanto, não há mais a equação simples de eu = bom, não-eu = ruim/mau. 

Fachada da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Salvador (Diógenes REBOUÇAS & Américo SIMAS, 1965)

Ora, para que o teste de realidade se aplique, a condição é o pensamento. Para Freud, este último "deve ser considerado como uma ação experimental, uma apalpação motora, com pequeno dispêndio de descarga" (FREUD, 1925, p. 268). O pensamento é um ponto de contato e ao mesmo tempo modelagem da realidade. Freud vai além e arremata:

 "O desempenho da função de julgamento, contudo, não se tornou possível até que a criação do símbolo da negativa dotou o pensar de uma primeira medida de liberdade das consequências da repressão [recalque], e, com isso, da compulsão do princípio do prazer" (id., ibid., 269)

 Ou seja, o pensamento só é possível a partir do símbolo, a rigor, poder-se-ia dizer que criar símbolos já é pensar. O território do pensamento é o campo simbólico. E Freud continua: é o símbolo da negativa, a capacidade de dizer 'não', o mínimo possível para o pensar, para que o sujeito se liberte do jugo da realidade e possa se posicionar relativamente independente dela, agora podendo afirmá-la ou negá-la, podendo, enfim, decidir. O afastamento da realidade próprio, por exemplo, do fantasiar, é condição de pensamento. A fantasia está, do ponto de vista psicanalítico, sempre na base do pensamento. 

Busto de Jean Hyppolite (Alain PEPPER, 2008)

Foi justo essa passagem acima citada que permitiu que Jean Hyppolite e Jacques Lacan reconhecessem uma rara influência de Hegel em Freud, numa célebre discussão no primeiro ano do seminário de Lacan; não só pela positivação do símbolo negativo como potência libertária, mas também pela tomada do processo de simbolização como tendo a estrutura daquilo que o filósofo alemão chamou de Aufhebung, uma espécie de superação de um momento dialético através da negativa da negativa, não eliminando o primeiro, mas colocando-o em parênteses (LACAN & HYPPOLITE, 1953-54; HEGEL, 1808).

Se essa decisão que se apresenta como superação é pautada ainda no prazer, Freud, mesmo assim, vê nela a potência de interromper a compulsão à repetição da busca por prazer. O símbolo, como meio, como instrumento interpretativo/constitutivo da realidade, permite, pela sua potência polissêmica e pela possibilidade de escolha escandida, condições de mudança, transformação de si e dos sentidos das coisas. Mas se para alguns leitores de Hegel - Žižek os chamaria de maus leitores (2000) - a dialética hegeliana é totalitária porque tenderia a encontrar, numa Aufhebung derradeira, uma síntese final que equivaleria, em última instância ao Tudo Saber, quiçá Deus ou o fim da História, não seria possível transpor essa lógica para a prática nem para a teoria da psicanálise.

Não só para a psicanálise, aliás. Três filósofos nietzscheanos, Derrida (1967), Deleuze (1969) e Sloterdijk (1981) também  criticam o uso totalitário da dialética, mas os três encontram um bom uso nela e chegam mesmo a elogiá-la, contanto justamente que ela seja tomada como um movimento 'louco', em deriva, sem ponto final, em contínuo trabalho de pensar, um movimento que nunca se fecha. É do mesmo modo que a psicanálise pode fazer uso de Hegel, e é assim que Lacan o faz, justamente ao postular que o Outro é inconsistente, que ele é barrado, que não há totalidade simbólica capaz de significar a existência e realizar garantias de gozo (LACAN, 1958-59).

Retrato do filósofo Georg Wilhelm Friedrich Hegel (Johann Jakob SCHLESINGER, 1831)

Ora, a psicanálise é uma convocação à simbolização, um convite à associação livre falada, de modo que novos sentidos são confeccionados às imagens que vêm à mente do paciente. Ela é interminável, dentre outros motivos, porque qualquer saber conquistado, consolidado, identificado a uma imagem que emula consistência, pode ser posto em análise, desconstruído e revelar sua inconsistência fundamental. Essa inconsistência aparece na obra de Freud nas figuras do desamparo fundamental - no fato de que nos alienamos no Outro para existirmos e manejarmos vias para o desejo e para encontrar prazer (FREUD, 1930) -, e da pulsão de morte, esta excitação sem sentido e constante que exige trabalho contínuo para que não nos destruamos (id., 1920).

Lacan nos lembra, ainda, que não há Outro do Outro (LACAN, 1958-59). Ou seja, não há consistência nem garantias de que o que o Outro nos provê como via de lida com o sem sentido de nossa existência - incluído aí a própria linguagem -, dê conta de nossas dificuldades na gestão de nossa vida. Não há fiador inabalável de nenhuma posição simbólica.

Enfim, Freud e Lacan, cada um ao seu modo, designam o campo simbólico, da fala e da linguagem, como a via possível para o sujeito conquistar algum freio para o funcionamento compulsivo de seu eu, agressivo, narcísico e não pensante. Ainda assim, os dois indicam que o pensamento/símbolo serve de freio e de chance de construção de outra coisa que não a mera repetição do mesmo, mas que podem ser insuficientes.

Jacques Lacan

Pois bem, o intelectual é o artesão, o curador e o guardião da dinamite do pensamento e nossa cultura moderna decidiu que a casa tanto do intelectual quanto a do pensamento é a universidade (FOUCAULT, 1975-76). Agora pode-se ver porque o intelectual e a universidade são odiados:

1) Porque ele trabalha, como no segundo modo de juízo apresentado por Freud, como um freio ao princípio do prazer. Há quem não tolere freios, anteparos, não aceita limites para seus desejos, suas fantasias e suas verdades. As defende porque elas servem a seu prazer narcísico, a sustentação de uma imagem pura, bela e irretocável de si e de seu grupo. O intelectual castra este narcisismo desenfreado.

2) Quando o intelectual chama ao pensamento, à simbolização, um dos efeitos de seu ato simbólico é o da colocação em análise não só do objeto observado e dito, mas também de quem diz. Uma imagem descrita é tema de análise, mas quem a projeta também. Lacan insistiu que o eu se constitui na relação com a imagem do outro, numa alienação imaginária (1949). O eu se modela a partir de uma imagem, bem como constitui a imagem que vê a partir do ponto de vista em que está disposto. Pôr em análise a imagem tem por efeito pôr em análise a imagem que o sujeito tem de si mesmo (1962-63). E isso incomoda muita gente, ocasiona, às vezes, angústia. Para alguns, eles são o ponto de partida de onde se olha o mundo, mas nunca se olham, não conseguem, não gostam nem querem ver quem eles mesmos são na cena.

Judith Butler

3) Na medida em que o intelectual, com seu instrumental crítico, mostra que o pensamento não pára, revela que a verdade absoluta não existe. O ódio à ciência também está pautado nisso: o não saber dos cientistas durante a pandemia de COVID-19 levou muitos a descobrirem que a ciência não é onipotente, o que sempre foi o óbvio condicionante da própria ciência; ainda assim sempre houve quem a submeteu a sonhos teológicos. O cientista e o intelectual têm isso em comum: eles evidenciam, através de seus procedimentos, que o saber é inconsistente, não se totaliza nem se estabiliza jamais. Ora, ao mesmo tempo em que o intelectual quebra um modo enrijecido de não pensar, ao convidar ao pensamento, não oferece uma nova dureza, mas, ao contrário, a abertura - o que dificulta a ação. Eis um efeito pacifista da atividade intelectual: ele freia a ação.

O intelectual, como um não-eu, como um incômodo, é odiado pelos afeitos a um narcisismo irrefreado, primitivo, que quer se ver bom.

 É nesse sentido que leio o brilhante artigo da talvez maior intelectual de nosso tempo, Judith Butler, a respeito da nova crise Israel-Hamas, "Comdamner la violence" (BUTLER, 2023). Ali a filósofa, utilizando da noção de quadro, nos ajuda a descrever como o intelectual pode desmontar posições enrijecidas, através da crítica, e convidar para o pensamento como uma via outra. Ela nos mostra que utilizamos de quadros simbólicos para fazer aparecer imagens com as quais podemos nos identificar, vidas passíveis de luto, e imagens animalizadas, não pranteáveis, matáveis. O racismo funciona assim, mas a aposta da autora é que a análise dos jogos simbolico-discursivos que estabilizam estes quadros, pode desmontá-los ou remanejá-los, transformando tanto a realidade vista como quem a vê. 

Podemos evocar aqui o tema da anamorfose desenvolvido por Jacques Lacan em seu O seminário livro 11: os quatro conceitos fundamentais da psicanálise (1964), e particularmente da anamorfose ali exemplificada, aquela presente no quadro Os embaixadores (1533), de Hans Holbein, o jovem. Tal obra representa dois homens, creditados pelos historiadores da arte como embaixadores, cercados de bens e, em anamorfose se vê no meio da tela uma imagem estranha. Ela só é vista formando uma representação quando o observador abandona seu ponto de vista e se afasta do quadro...num retorno de olhar, numa espécie de acossamento da curiosidade, o observador volta a cabeça e vê uma enorme caveira, a face da morte. A verdade aparece ao olhar de soslaio, a finitude que marca o quadro narcísico de quem olha e de quem é representado invade o quadro. Podemos também dizer que a mudança do ponto de vista ocasiona a morte de uma imagem de si. E, finalmente, podemos articular tal reflexão sobre a anamorfose com o texto de Butler: um quadro inclui alguns como representáveis e institui a possibilidade de outros morrerem, de suas mortes não aparecerem senão de soslaio.

Ainda poderia jogar com o nome com que o quadro ficou conhecido e utilizá-lo para tratar da situação Israel-Gaza: enquanto os embaixadores aparecem como representação, enquanto posam de modo solene, a morte paira no ar, mas os embaixadores parecem não dar atenção a ela; e quem repara nos embaixadores também não a vê; ela só se torna visível quando abandonamos o ponto de vista em que os embaixadores são observados. A morte é  escondida pelos embaixadores. Não seria essa uma forma pertinente de considerarmos como grande parte da diplomacia internacional tem lidado com a questão Israel-Gaza?

Os embaixadores (Hans HOLBEIN, o jovem, 1533)

Butler condena a violência do Hamas e condena o Estado colonial e racista de Israel. Não se trata da lógica de ou se apoia um ou se apoia o outro, lógica paranóica.: não há apoio a nenhum assassinato. Butler convida à suspensão do ato para que o juízo pensante se realize: por exemplo, julgar se minhas imagens mentais de bons e maus, heróis e vilões, se encaixa bem na realidade observada e descrita ou ainda se o recurso discursivo não tem a força de transformar meu aparato imagético-performativo e possibilitar a construção de outras imagens ideais a partir de onde se continuará a testar a realidade. A que ela propõe é uma que me agrada mais, por mais ingênua e tola que possa parecer: a democracia pacífica entre israelenses e palestinos, dois Estados convivendo lado a lado.

Se o ódio ao intelectual é um sintoma de fascismo, como indica Eco, é preciso dizer que o fascismo está pautado num princípio do prazer sem freios, quase-paranoico. E o intelectual está em nossa cultura como figura fundamental contra o fascismo, a favor do pensamento e da confecção de sonhos, de novas utopias que nos possibilitem ter mais instrumentos de juízo da realidade que o simples 'bom = eu/meu grupo, não-eu/outro grupo = mau'.

Que parem de impedir os professores de pensar, instigar a pensar, discordar, argumentar, refletir, criticar! Essa é uma das principais armas da democracia: a variedade e capacidade de tecer e transformar pensamentos. Os professores são vitais para a democracia. Viva o Dia do Mestre.

Comentários

  1. Lucido e muito bem articulado

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  2. Belo artigo! Em tempos de verdades absolutas, é sempre
    bom darmos chance à reflexão.

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