Genealogia, psicanálise e o Golpe de 1964
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O texto de hoje foi escrito em diálogo com o conteúdo de minhas aulas no Mestrado Profissional em Psicanálise, Ciência e Política, na UERJ (cujo nome anterior era Psicanálise e Políticas Públicas), em particular as últimas, dadas numa disciplina organizada pelo ilustre colega Luciano Elia. Talvez se possa dizer também que este texto existe como convite a pensar as repetições de nossa cultura...
O tema escolhido é o de relacionar o método psicanalítico de Freud e o método genealógico (de Nietzsche, com influências em Derrida e, especialmente, em Foucault). Sucintamente buscarei descrever o segundo para depois observar onde toca e onde se afasta do que Freud construiu em sua prática, bem como comentarei também os 59 anos do golpe de Estado de 1964 a partir destas reflexões sobre história.
Genealogia da moral, uma polêmica (NIETZSCHE, 1887) é o texto nietzscheano que destaca o significante 'genealogia' para nomear seu modo de fazer filosofia e, de certa maneira, história. Porém já em O nascimento da tragédia no espírito da música (id., 1872) e, principalmente, nas Considerações extemporâneas e meditações prematuras (id., 1873), estão presentes seu modo, seu método, a particularidade crítica com que aborda o estudo da história e o uso da história como instrumentos do estabelecimento de uma verdade. E seu projeto genealógico, a rigor, permanecerá até o fim, por exemplo, em O Anticristo (id., 1888/95).
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Tanques e jipes militares com o Congresso Nacional (Oscar NIEMEYER, 1960) ao fundo, Brasília, no Golpe Militar de 1964 |
Michel Foucault se esforçou, num célebre artigo, "Nietzsche, a genealogia e a história" (FOUCAULT, 1971), em especificar no quê a genealogia difere do modo - digamos - clássico de se fazer história. Ressaltarei alguns pontos destacados no artigo.
Em primeiro lugar, enquanto no modo clássico (ou melhor, novecentista) de se fazer história, ela era tomada como uma linha do tempo reta, que anda sempre para a frente, para o futuro - e caberia ao historiador registrar os fatos passados na sua consecução, para se produzir nexos a respeito do sentido do processo histórico -, a genealogia pensa a relação entre história e tempo de modo diferente: a genealogia é obra do presente querendo se entender e, para isso, procura, num movimento de busca, de pesquisa, trilhas históricas que auxiliem a compreender a configuração do hoje.
Ora, estas duas posições implicam também que, do ponto de vista da história clássica, o trabalho do historiador remeteria à possibilidade de olhar para a história colocando em parênteses seu próprio pertencimento, participação e produção dela. Como se fosse possível observar a história de fora, à distância, como um cientista natural observaria seu objeto - de modo que, só assim, a história alcançaria a dignidade de ciência humana. O historiador registraria fatos comprovados que serviriam de pontos seguros na diagramação do percurso daquela civilização. O que chamei até aqui de história clássica ou novecentista pode, portanto, com todo o rigor do termo celebrado por Auguste Comte, ser chamado de história positivista (COMTE, 1830).
A genealogia, ao contrário, segundo Foucault - e por conta mesmo da crítica contundente de Nietzsche a qualquer transcendência (NIETZSCHE, 1886) -, não pode ser pensada ou praticada fora da história simplesmente porque não há um fora da história; não há posição possível que ocupemos que nos garantiria a suposta neutralidade científica, o que, aliás, põe em questão até mesmo a suposta dureza, imutabilidade e clareza dos fatos. Sendo assim, o genealogista sabe que, não estando ele de fora da história, ao procurar contá-la, necessariamente está intervindo nela, o que quer dizer que seu esforço é necessariamente político, ele faz escolhas que não são outras senão uma posição nas disputas, nas relações de poder. Por isso, o genealogista considera que também o historiador positivista faz escolhas políticas na construção de sua história, porém ele ou é ingênuo ou cínico quanto à sua posição.
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Jacques Derrida, filósofo herdeiro e marcado pela genealogia de Nietzsche |
Aliás, essa discussão é absolutamente pertinente quanto ao acontecimento que faz 59 anos: o golpe militar de 1964. Para o historiador positivista (e sabemos o quanto o positivismo é ainda uma ideologia com a qual o militarismo brasileiro se alinha!), trata-se de buscar um único sentido histórico explicativo para o golpe, em geral determinando-o como uma revolução brasileira e heróica contra a ameaça comunista. Ele procura dados históricos que ele sinaliza como fatos (e, portanto, os toma como inquestionáveis) supostamente comprobatórios de que o que defende como leitura histórica não é uma leitura coisa nenhuma, é a única verdade possível - o que alimenta a atitude de tomar outas leituras do evento histórico como mentiras, farsas ou ignorância. Em todo positivismo, haveria a tendência totalitária. O genealogista, ao contrário, assume o que o positivista não admite fazer (mas faz): sua reconstrução da história é um ato político e, além disso, é um esforço para compreender os problemas que nossa atualidade coloca, tendo em vista o golpe de 1964 - por exemplo, o desmentido do golpe teria relação com a anistia de crimes de Estado, com a ereção de um forte polo fascista no cenário político dos últimos anos e com a contínua prática das forças militares ou policiais em esconder e proteger mais do que criticar suas chamadas 'bandas podres', em nome de uma imagem de heroísmo civilizatório. O genealogista busca contar as historietas, os causos, as narrativas, os discursos silenciados, não contados, numa história oficial. O genealogista toma a história em várias camadas. Há histórias, e não somente a História.
Seguindo nossa distinção entre genealogia e história positivista, talvez o leitor tenha já percebido que, se não há possibilidade de se afirmar uma única linearidade histórica vista por um sujeito de fora, transcendental, a melhor imagem que me vem para se pensar o trabalho do genealogia seria menos o traçado de uma linha num quadro e mais o trabalho de uma árvore em lançar raízes em diversas direções, com ramificações, subidas e descidas, se lançando atrás de fontes nutrientes. A história é um trabalho do hoje diante de uma rede múltipla de fontes, de modo que o nexo histórico só pode ser feito através de escolhas de linhagens. E aqui sobrevém uma outra diferença: enquanto o processo histórico positivista, tendo em vista sua linearidade, supõe uma origem, um começo único e um futuro, um final também único, ele permite uma previsibilidade do passado e do futuro, uma lei histórica - o que, apesar de todas as diferenças em relação ao positivismo e entre si, também é verdade para as concepções históricas de Santo Agostinho (AGOSTINHO DE HIPONA, 426), Hegel (HEGEL, 1807) e Marx & Engels (MARX & ENGELS, 1848). Ora, do ponto de vista do genealogista, a história não é previsível pois ela é pensada como o efeito do choque de forças (seu modelo é a guerra que, por mais científica que possa ser, sempre traz em si, na determinação de seus rumos, o imponderável, como o Vietnã e o Afeganistão nos lembram). O encontro entre forças, aliás, nem sempre se daria num combate direto; diversas estratégias entram em jogo no processo histórico: alianças, traições, subterfúgios, guerra direta, colonizações, tolerâncias etc.
Se o futuro é imponderável, o passado é obra de uma construção, pautada em descobertas, mas não uma determinação única. Há diversos passados, diversas camadas, diversas articulações, de modo que não se pode mais determinar uma origem clara e segura de tudo. Não há um começo, mas começos diversos, heterogêneos, cujos percursos podem se encontrar através de choques ou alianças. Como Jacques Derrida, continuador do projeto genealógico nietzscheano, aponta, através do termo arquiescritura, em Gramatologia (DERRIDA, 1967), só se pode falar de origem, de início, na condição deste termo ser rasurado, ou seja, as estruturas históricas que se montaram (linguísticas, sociais, econômicas etc.), se montaram sobre algo perdido de uma vez por todas e desde sempre, um vazio, não sobre um ponto de partida que os determinou de modo evidente. De certo modo é o que sustenta Lacan ao pensar a estrutura psíquica como um contorno em torno da Coisa (LACAN, 1959-60), cuja topologia seria à da confecção de um vaso, forma que faz surgir o vazio em torno do qual ele se molda (id., 1962-63). É nesse sentido, também, aliás, que Lacan prefere um ponto de vista criacionista e ateu mais do que um evolucionismo que, segundo ele, manteria a ideia de Deus como origem, fim e observador de uma história, vista de fora (id., 1959-60).
Nesta altura, creio que o leitor já ensaiou algumas aproximações com o método freudiano, além das que eu formulei acima. Se é verdade que houve, entre muitos pós-freudianos, infiltrações da concepção histórica positivista, não é possível dizer isso nem de Freud nem de Lacan. Pretendo demonstrar isso.
Freud buscou pensar a história da humanidade em alguns ensaios, mas o bojo de sua obra é dedicado a pensar o aparelho psíquico de cada um de nós como construído numa história, nesse caso a história individual que, como Freud sinaliza em Psicologia das massas e análise do eu (FREUD, 1921), não pode ser separada de uma psicologia social, tendo em vista que o indivíduo é um produto do social, como os conceitos de ideal do eu (id., 1914) e supereu atestam (id., 1923).
Pois bem, a história do indivíduo é escutada por Freud através das histórias contadas por seus pacientes em análise. Estas histórias são narrativas ditas hoje a respeito de um passado, de um presente e também de um futuro e só podem ser escutadas como expressões de uma realidade psíquica e não necessariamente de uma realidade factual (id, 1897). Isso quer dizer que os fatos não são certos, o que é certo é a interpretação de acontecimentos hoje. Freud vai além e identifica nessas interpretações um movimento para 'embelezar' a história - e, por isso, terá de considerá-las fantasias (id., ibid.).
Portanto, o que o analista escuta são fantasias que expressam a realidade psíquica, o sujeito, e menos fatos indiscutíveis. Além disso, Freud, ao tentar construir o caminho da formação dos sintomas neuróticos, reconhecerá uma estranha temporalidade que se relaciona perfeitamente à concepção genealógica de história. O tempo do a posteriori. O trauma que dá sentido ao processo sintomático não é pensado numa temporalidade linear e determinista - ao contrário, a formação do sintoma se daria em dois tempos, sendo que o segundo tempo ocorre 'primeiro'. Explico utilizando as palavras de Freud: tendo em vista uma frustração ocorrida na atualidade, o sujeito recorre a algum ou alguns eventos passados para significar a frustração atual (bem como ressignifica o passado através do evento de agora), o que confere ao tempo uma lógica não linear, mas sim de reinterpretações constantes do passado (e do futuro) a partir do agora (id., 1916-17). Além disso a ideia de ramificações ou raízes de um tronco vem à tona na compreensão freudiana seja dos sintomas ou dos sonhos quando o inventor da psicanálise nos propõe pensar que o fenômeno atual pode ser sobredeterminado historicamente, isto é; ele pode ser o efeito de condensações e deslocamentos de diversas lembranças, fantasias e desejos (id., 1900).
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Sigmund Freud em 1885, ainda um jovem de 29 anos |
Freud sempre insistiu que o objetivo do tratamento psicanalítico é o de preencher lacunas da memória do paciente (id., 1895, 1914, 1937). É o de reconstruir uma história. Mas agora está claro que esta história não é uma história factual. O que faz um psicanalista, então? Ele auxilia o sujeito a lembrar ou articular um saber a respeito de si e de sua própria história que ele mesmo não queria saber. Como sublinha Lacan, o eu é uma instância psíquica que não quer saber (LACAN, 1954-55). O eu é construído a partir da imagem que daria júbilo ao Outro e a si (id., 1948, 1949). O eu, que fique claro, não é o mesmo que o sujeito - parte da história do sujeito é escamoteada pelo eu (através de seus mecanismos de defesa, exaustivamente elencados por Anna Freud [A. FREUD, 1937], dentre eles obviamente estão o recalcamento, a projeção, a formação reativa etc.), tudo em nome de permanecer ou aceder à condição de objeto de amor do Outro - e do outro (FREUD, 1914, 1923; LACAN, 1954-55, 1956-57, 1960-61).
Em "Recordar, repetir e elaborar" (FREUD, 1914) ainda aprendemos mais uma particularidade da concepção de tempo e história do ponto de vista psicanalítico. Ali Freud esclarece que aquilo que não se torna consciente, não encontra chance de se tornar discurso suscetível à crítica e, portanto, à ressignificação, à elaboração. É a elaboração da história de si o que evidenciaria um movimento na desmontagem de uma imagem monolítica e totalitária do eu. Diferente dos saberes esquecidos em bibliotecas emboloradas a que Foucault se refere, o que não se torna consciente ao sujeito da psicanálise não é de verdade esquecido; reaparece o tempo todo através de repetições em ato, atuações atualizadas nas relações com os outros de agora (dentre eles o próprio analista, na relação transferencial). A repetição garante a possibilidade da conscientização e elaboração de uma outra cena que se insinua (e às vezes se torna flagrante) na vida do sujeito. Haveria o mesmo processo na história social? Freud parece acreditar que sim, como se pode ler em ensaios como Totem e tabu (id., 1912-13), "Construções em análise" (id., 1937) ou Moisés e o monoteísmo (id., 1938) - e parece ser algo da mesma ordem o que Nietzsche acusa em Genealogia da moral (op. cit.) a respeito do conflito entre moral do ressentimento e moral dos senhores, encontrando na Revolução Burguesa moderna, por exemplo, uma repetição do antigo ressentimento judaico-cristão, que não tem consciência de si.
Enfim, ao longo de uma análise se desmontariam as defesas do eu que escondem de si sua história, suas fantasias, os desejos que não se coadunariam à imagem narcísica e fálica a qual ele visa sustentar a qualquer custo (e que lhe traz sofrimento). Caberia ao eu reconhecer como seu o que vem do inconsciente (história, fantasias, desejos, afetos) e, assim, se posicionar de modo menos arrogante e defensivo quanto a si mesmo. O eu que quereria se ver como exemplar, pleno, que quereria se ver como objeto narcísico adequado ao amor de si e do outro, o eu totalitário, decairia diante da aceitação de sua castração.
Ora, no início de seu curso Em defesa da sociedade (FOUCAULT, 1975-76), Michel Foucault dedica duas aulas para esclarecer a seu público do que se trata quando se faz genealogia. E ali ele contrapõe os saberes fragmentários oriundos das pesquisas genealógicas ao saber totalitário que ele encontrava, por exemplo, no marxismo e na psicanálise daquela época, na Europa. Aqui cabe um comentário: marxistas e psicanalistas ficam muito incomodados com essa crítica - mas, sim, houve (e em alguns lugares ainda há) um marxismo e uma psicanálise totalitários, que explicam tudo a partir de sua posição tornada ideológica, considerando qualquer divergência ou crítica uma evidência de alienação, resistência ou traição. É evidente que Foucault não está criticando uma suposta essência totalitária seja da psicanálise, seja do marxismo - mesmo porque a pesquisa genealógica ao retirar a história de uma linearidade e de uma lei de repetição transcendental implode a possibilidade de se designar qualquer essência; a intervenção de Foucault é contra o totalitarismo, não contra a psicanálise ou o marxismo, que o influenciaram (como se lê em "Nietzsche, Freud, Marx" [id., 1964]) e que são aliados em diversas lutas.
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As raízes de uma árvore, melhor imagem do trabalho genealógico de contagem da história, que a da linha reta |
Retomando o argumento: em 1975-76, Foucault sinaliza que o projeto genealógico é o de fazer aparecerem os saberes sujeitados, fragmentários e calados pela dominação totalitária de alguns discursos. Por exemplo: na psicanálise, é preciso escutar não só a teoria ortodoxa, mas as outras, não só a teoria, mas o saber daqueles psicanalistas, não só a teoria, mas o paciente, os discursos silenciados etc. Pois bem, não é isso o que Freud, Rank, Ferenczi e Lacan, dentre outros, faziam e apresentavam em seus textos e comunicações? Em particular, na clínica, ao escutar o paciente, ao auxiliá-lo a preencher as lacunas de sua história através do que este esqueceu, do que recalcou, do que negou, o psicanalista não estaria auxiliando o sujeito a barrar o totalitarismo do eu (e do Outro) em nome de saberes fragmentários e histórias esquecidas? Em nome de fantasias vergonhosas? Em nome da afirmação de um desejo que põe em cheque o tudo-saber?
O que a psicanálise faria, assim, seria uma genealogia do paciente, talvez. Pois bem, seja através da psicanálise, seja através do método nietzscheano-genealógico propriamente dito, muito se poderia auxiliar na lida com a memória do Golpe de 1964. Seja quem o viveu ativamente, como espectador ou quem nem estava vivo naqueles tempos, através de uma análise pessoal e ou de uma pesquisa e discussão político-filosófica poder-se-ia fazer falar os porões da Ditadura e do eu (de quem defende e de quem se ofende com aqueles anos de chumbo), reelaborar as lutas silenciadas de nossa história (as lutas 'factuais' e as lutas interiores de cada um), ressignificar a vontade de ver alguma instituição de modo narcísico e fálico, pura, limpa, sem mácula - sejam estas instituições as Forças Armadas, a família (que teve alguma participação na idolatria ao Golpe) ou o próprio eu. Enquanto estas instituições forem anistiadas não há trabalho de elaboração e desmonte do perigo totalitário. É preciso recordar e elaborar para não repetir, foi isso que se tentou fazer na África do Sul à respeito do regime racista do apartheid, é isso o que se fez na Argentina a respeito da Ditadura Militar e é isso o que se tentou fazer com a Comissão da Verdade (que, não por acaso, contou com a participação de uma psicanalista, Maria Rita Kehl), por aqui e que encontrou sérias dificuldades.
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Invasão do Congresso Nacional em 8 de janeiro de 2023, um sinal de que não elaboramos nossa história |
Essa preocupação com o ‘totalitarismo’, considerado na época de Foucault e frente aos perigos e 'ensaios' sociais atuais, é mais do que pertinente e urgente - um tema que daria muito pano para manga.
ResponderExcluirFreud e Marx, como afirmou o filósofo, sempre serão ‘matrizes’ incontornáveis.
As articulações entre diretrizes do movimento genealógico de construção de narrativas históricas e as do movimento de análise, na perspectiva do autor, ficaram bem claras.
Pela importância e por estar no título, parece que se delineia uma “continuidade.II” desse texto, já que, efetivamente, a questão do golpe de 64 ficou mais localizada no último parágrafo. VP
Oi VP. Obrigado pelo feedback.
ExcluirMeu post de 28 de novembro do ano de 2021, "Reconhecer o trauma, cuidar da ferida", já trabalhava o tema do trauma da ditadura militar. A parte II, portanto, já existe!